sexta-feira, 15 de maio de 2009

MILHO DE PIPOCA QUE NÃO PASSA PELO FOGO, CONTINUA A SER MILHO PARA SEMPRE...

Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de um mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego, ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: Pânico, medo, ansiedade, ansiedade, depressão ou,
Sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui.
Com isso, a possibilidade de grandes transformações também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pense que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de suas cascas duras, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras as vidas inteiras.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria para ninguém.

Extraído do livro “O amor que acende a lua” de Rubem Alves – Editore Papiros.

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